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7 de dezembro de 2011

O poder da Monarquia e da Igreja no período colonial (2ª Parte)

 A ideia de Lutero de que todo homem tem a capacidade de interpretar a Bíblia corretamente, o medo da sociedade de época sobre quanto tempo permaneceria no Purgatório, a contradição entre Lutero junto a Santo Agostinho versus às ideias de São Tomás de Aquino, e a crítica às indulgências comercializadas pela Igreja que resultariam nas 95 teses.

O luteranismo

• O luteranismo surge a partir da filosofia de Martinho Lutero, monge agostiniano e relevante teólogo da época. Lutero era obcecado pelo assunto da salvação, e buscava compreender os ensinamentos religiosos que a salvação da alma dependia da fé, das obras e das graças, ao mesmo passo que criticava a Igreja.

Abaixo, trecho do livro Uma história de Deus; quatro milênios de busca do judaísmo, cristianismo e islamismo, de Karen Armstrong, a respeito de Martinho Lutero:

“Embora eu vivesse uma vida impecável como monge, sentia-me um pecador de consciência pesada diante de Deus. (...) Longe de amar aquele justo que pune os pecadores, eu na verdade o odiava. Eu era um bom monge. (...) Todos os meus companheiros no mosteiro confirmariam isso. (...) E no entanto minha consciência não me dava certeza, e eu sempre duvidava e dizia: ‘Não fizeste isso direito. Não foste suficiente contrito. Deixaste isso de fora da confissão.’.”

• Dessa forma, Lutero contradizia-se às práticas defendidas pela Igreja para obter-se a salvação da alma, ou seja: boas ações, orações, jejum, peregrinações, missa e demais sacramentos. Para Lutero, tais práticas não lhe proporcionavam a tranqüilidade de espírito. Com base na teoria que a fé fosse dada gratuitamente por Deus através de Cristo, Lutero concluiu que, por mais numerosas e necessárias que fossem, as boas ações não conduziriam a salvação.

• De acordo com a tradicional Igreja, certas pessoas iriam diretamente para o Céu ou para o Inferno, e outras teriam a entrada no Céu atrasada por um período a qual deveriam pagar no Purgatório, isso em razão de terem cometido muitos pecados. À época, as pessoas temiam quanto tempo permaneceriam no purgatório. Mas já era possível reduzir o tempo que ficaria no purgatório enquanto vivo; a Igreja concedia indulgências através de pagamentos, como já dito anteriormente. Através de orações, participação em missas e realização de boas obras, inclusive doações de dinheiro à Igreja, era possível receber o perdão. Tal prática era vista com maus olhos por Lutero, ele dizia que, é como se as pessoas estivessem “comprando sua entrada no céu.”.

Lutero versus Aquino

• Martinho Lutero também contradizia-se a visão de Tomás de Aquino referente ao equilíbrio entre religião e ciência. Enquanto o escolástico Aquino defendia e acreditava que as boas obras e a razão poderiam explicar Deus, Lutero afirmava que Deus proibia discussões acerca de sua natureza. Para Lutero, a fé não necessitava de informação e conhecimento, mas de uma livre entrega e sendo assim, desprovida de ciência; ele afirmava ainda que, tentar alcançar Deus por meio da razão, apenas conduziria o fiel ao desespero. A visão de Martinho o aproximava da visão de Santo Agostinho, santo que tinha uma visão de fé individual.

A clarividência de todos sobre a Bíblia, defendida por Lutero

• Para a Igreja, apenas ela poderia interpretar corretamente, justificado-se pelo clero, a Bíblia. Já Martinho Lutero defendia que, para descobrir o sentido da Bíblia, não era necessário o auxílio de padres. Em questões de fé, leigos também podiam interpretar corretamente a Bíblia. Dessa forma, e segundo a visão de Lutero, todos podiam receber sua fé diretamente de Deus, subtraindo assim, a necessidade do intermédio da Igreja.

• Lutero afirmava ainda que, Deus poderia escolher a quem lhe der a fé. Ou seja, nesse entendimento, todo homem ao nascer já estaria predestinado ao Céu ou ao Inferno, pois haveria os que nasceram com fé e os que nasceram sem fé. Lutero dizia ainda que, era impossível saber a vontade de Deus em vida para cada indivíduo.

As 95 teses

• Em 1517, um monge de nome Tetzel viajava pela área próxima de Wittenberg, em que Lutero atuava. Tetzel vendia indulgências com duas finalidades: a primeira, viabilizar a reconstrução da basílica de São Pedro, em Roma; e a segunda, quitar as dívidas contraídas pelo arcebispo local que havia comprado o cargo, então vendido pelo papa. Lutero desconhecia a segunda finalidade, mas irritado com as maneiras grosseiras de Tetzel, Lutero afixa à porta do castelo de Wittenberg, na Alemanha, suas 95 teses. Lutero condenava a prática da venda de indulgências, criticando-a como corrupta, e defendia que a salvação da alma não dependia do comparecimento à Igreja, da prática do jejum, das peregrinações, etc., mas que, tal objetivo seria alcançado por meio da fé pessoal.

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